Reviver animais extintos
O DNA é a receita para se criar um ser vivo. Em novembro do ano passado, cientistas da Universidade da Pensilvânia (EUA) publicaram um trabalho com 80% da sequência genômica do mamute. O estudo levou a uma outra especulação: poderíamos trazer esse gigante de volta à vida?
Para fazer com que uma criatura extinta renasça, são necessários dois componentes essenciais: o genoma completo e um parente vivo compatível que possa dar à luz o clone. A primeira dificuldade é conseguir extrair uma sequência completa de DNA. Quando um ser vivo morre, o corpo fica sujeito a uma série de alterações em seu material genético – bactérias o decompõem e o sol danifica algumas estruturas do genoma. Ainda assim, é possível encontrar boas condições de preservação do material genético em certas circunstâncias. Por exemplo, quando a criatura morre em terras gélidas, como a Sibéria (o caso de milhares de mamutes), e tem seu corpo congelado; ou quando falece em uma caverna úmida e escura.
O mamute, um primo próximo do elefante, é um dos mais fortes candidatos à ressurreição. O genoma mitocondrial de uma de suas subespécies, o mamute-lanoso, foi completamente sequenciado em 2006. Trabalha-se agora para completar as sequências do seu DNA nuclear. O mamute é um animal extinto que pertence ao gênero Mammuthus e à família Elephantidae, incluída nos proboscídeos. Tal como os elefantes, esses animais apresentavam tromba e presas de marfim encurvadas, que podiam atingir cinco metros de comprimento, mas tinham o corpo coberto de pelos. Extintos há apenas 12 mil anos, eles foram muito comuns no Neolítico, época em que constituíam uma importante fonte de alimentação do homem pré-histórico. Os mamutes viviam na Europa, no norte da Ásia e da América do Norte, em climas temperados ou frios. Sua extinção provavelmente ocorreu por conta das alterações climáticas do fim da Idade do Gelo. Descobertas mostram também que o ser humano teve papel fundamental na extinção dos mamutes. De acordo com essas pesquisas, o ser humano matou mamutes para comer sua carne, confeccionar vestimentas e usar ossos e couro na fabricação de casas, entre outras finalidades. Na Sibéria descobriram-se centenas de restos congelados de mamutes em excelente estado de conservação.
Em fevereiro último, aproximadamente 60% do código genético dos neandertais foi decifrado. “Para se ter um genoma de qualidade razoável, do mesmo nível que hoje se tem dos chimpanzés, seriam necessários dois anos, ou mais, de estudo”, avalia Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária em Leipzig, na Alemanha. Ele espera que o genoma traga insights sobre as diferenças entre os humanos e seus misteriosos primos extintos. Especula-se que esses insights possam ser usados para ressuscitar o Homem de Neandertal. Devido ao nosso ancestral comum, a espécie humana é a doadora de óvulos e mãe de aluguel ideal. Mas a ideia é polêmica. “Considero a ideia de ressuscitar o neandertal ridícula”, afirma Pääbo. No máximo, pesquisadores podem substituir genes humanos pelos do neandertal em células em crescimento em laboratório para estudar os efeitos, afirma.
Essa preguiça gigante tinha aproximadamente seis metros de altura e pesava cerca de quatro toneladas. O desaparecimento relativamente recente desse bicho fez com que muitos espécimes fossem encontrados ainda com pelos e pedaços de pele, que são boa fonte de DNA. Então, há grandes chances de decodificarmos esse gigante? “Com certeza”, afirma Hendrik Poinar, da Universidade de Macmaster, no Canadá, que extraiu o DNA do megatério em um esterco fossilizado de mais ou menos 30 mil anos. A maior dificuldade é encontrar uma espécie que sirva como mãe de aluguel.
Esse tatu gigante, cujo tamanho era maior que o de um fusca, habitava os campos da América Latina. Como não há gliptodontes congelados, a esperança de ressuscitá-lo está em encontrar um DNA bem preservado em alguma caverna fresca e úmida. Além disso, há um outro problema: a espécie mais compatível para atuar como barriga de aluguel. As espécies de tatu atuais são muito menores que o gliptodonte.
Esse ursídeo gigante transformaria o urso polar num bichinho de pelúcia. O urso-de-cara-achatada pode ter tido um terço a mais da altura de um urso polar, quando está na posição vertical, pesando mais de uma tonelada. Recuperar seu DNA deve ser possível, já que há muitos cadáveres preservados no permafrost. O parente mais próximo desse gigantesco animal é o urso-de-óculos, ou urso andino, da América do Sul. As duas espécies surgiram do mesmo ancestral, há 5 milhões de anos; mas, infelizmente, com apenas um décimo da massa corpórea do urso-de-cara-achatada, o urso-de-óculos não seria uma boa espécie para mãe de aluguel compatível.
RECEITA DA RESSURREIÇÃO
O QUE É NECESSÁRIO:
– DNA bem preservado
– Muitos bilhões de partes básicas de DNA
– Uma espécie que sirva de barriga de aluguel
– Tecnologias avançadas
O QUE FAZER:
- Extraia o DNA de uma espécie extinta, sequencie os fragmentos e junte-os para obter o genoma completo. Realidade: As sequências do genoma de animais extintos são um enigma, além de poder conter erros cruciais.
- Agora pegue as suas partes básicas de DNA e recrie o genoma da sua fera extinta favorita, com os números corretos de cromossomos. Realidade: Ainda não é possível fazer moléculas de DNA longas a partir do zero, mas um dia poderemos.
- Coloque o cromossomo em um núcleo artificial e insira-o em um óvulo coletado de uma espécie compatível. Esse material, mais tarde, vai se desenvolver em um embrião, que será o clone do animal já extinto. Realidade: Achar espécies compatíveis, sem contar retirar óvulos dela, pode ser um problema enorme.
- Faça crescer um filhote a partir de um embrião. Para os mamíferos, implante o embrião no útero de uma fêmea usada como barriga de aluguel; para aves e répteis, incube o embrião usando uma tecnologia futura ainda não criada; para anfíbios e peixes, animais em que a fertilização se dá fora do corpo, só nos resta sentar e esperar para ver. Realidade: Barrigas de aluguel compatíveis podem não existir para esses animais extintos.
Cientistas estão muito perto de criar o primeiro clone de mamute da história
Geneticista de Harvard foi bem-sucedido ao inserir genes de espécie extinta há mais de três milênios no DNA de um elefante
Os genes do mamute-lanoso voltaram à vida em um laboratório da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, inseridos no genoma de um elefante moderno.
O geneticista George Church, líder da pesquisa, usou uma técnica inédita que permitiu inserir, com precisão, determinadas regiões do DNA do animal extinto no material genético do elefante, seu parente mais próximo. “Agora nós temos células de elefantes funcionais com DNA de mamute dentro delas”, afirmou Church ao The Sunday Times. “Nós priorizamos genes associados com a resistência ao frio, incluindo pilosidade, tamanho da orelha e gordura subcutânea”, explicou. Originária da tundra da América do Norte e da Eurásia, a espécie era perfeitamente adaptada ao frio extremo de seu habitat.